29.12.01

texto do prof. Ricardo Russo - Universitário

O Dia do Listão - Meu nome tá na lista?

Então veio a tempestade, o mundo caía do céu. Seria o Dilúvio? Não, era apenas a prova de vestibular. Calor, muito calor. Corre-se de um lado a outro, livros debaixo do braço, olhos esbugalhados, emoldurados por olheiras profundas. Então, chegou o listão. E a reação de cada qual?

Os garotos que passam atiram-se ao chão. Gritam - porque esses gestos animalescos são próprios dos primatas tais quais os homens. Embarram-se e bebem cerveja lançada de cima por outro primata. Engolem a vitória com a volúpia do macho. Típico comportamento masculino. Entretanto, quando eles rodam, fogem pela tangente, escapando dos olhares e da pergunta, você passou? Homem não chora, então eles se metem em casa, a curtir essa dor profunda de macho ferido.

As mulheres, ah, as mulheres, são de outra natureza. Quando passam, gritam fininho e procuram a amiga. Mulher não pode festejar sozinha, é animal solidário. Abraçam-se, rodopiando, dando pulinhos e grunhindo frases impossíveis de serem entendidas. Mas, se o infortúnio lhes reserva a reprovação, buscam várias vezes o nome na lista. Não o encontram e custa a elas perceber a verdade estampada na folha. Abrem-se em lágrimas. O choro jorra em quantidade. Querem o professor mais próximo para um abraço de consolo. Ah, as mulheres!!!

E a festa da aprovação vai rolando solta. Samba, suor e tinta. Em meio a tudo, já resignadas, ensaiam alguns passos da dança da moda. A alma negra pela frustração da reprovação, vai clareando, até o entusiasmo pegar solto. Elas, reprovadas, dançam, fazem a festa e, mais do que isso- sublime ironia do destino feminino das vestibulandas - acabam saindo na foto dos aprovados!!!

Enquanto isso, os garotos reprovados, trancados em seus quartos, urram sua dor de macho-que-não-chora. Eis o porquê de as mulheres viverem mais.
A natureza é mesmo sábia.

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