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Capítulo VIII
O dia amanheceu com cara de bandido. Dia, quando zanga, é pior que gente ou fera. À noite, tinha chovido e as estradas ficaram intransitáveis. As garças, que costumavam dar o ar de sua graça na lagoa próxima, nem se dignaram aparecer. Tudo que era bicho, inseto, ave, deu chá de sumiço. E olhando o céu não era preciso ser nenhum especialista em meteorologia para prever chuvas. Nem era preciso prever. Bastava ver. Ó ela caindo!
Pois bem. Numa hora dessas adulto resolve seu problema enfiando-se num livro, relaxando (preguiça de adulto é relax), batendo aquele papo sobre economia e a situação do mundo, decidindo uns salgadinhos e uma bebidinhas, mais tarde jogango cartas. Até gamão, um jogo velho como chão, ainda era diversão dos vovôs. É o tipo de coisa que jovem não entende e paga pra não entender. Não sabe, não quer saber e tem raiva de quem sabe. Gamão passa a ser mais difícil que computador. É uma questão de querer saber ou não. Não dá. Nostalgia é apelido de saudade. Muitos adultos ficam recordando os sambas de Noel, os cantores do seu tempo, tudo que achavam bacana. Nostalgia era coisa que fazia vibrar com aquela música, com aquelas roupas que, de vez em quando, voltam a ser moda, com mil coisas mais.
Garoto não tem nostalgia. O tempo está perto demais. A saudade precisa de distância para crescer. Garoto tem muita força pra gastar, muita energia acumulada por uma noite de sono e precisa botar pra fora de qualquer jeito.
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Pai, me compra um amigo? -Pedro Bloch-